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domingo, 21 de março de 2010

Acompanhando e Avaliando - texto trabalhado em hora pedagógica

Ensino Fundamental de 9 anos: Congresso Estadual de Alfabetização
Carla Viana Coscarelli (FALE / CEALE)

Avaliação é um tema polêmico e vou nessa nossa conversa discutir aspectos e dados que devem ser considerados no processo de avaliar. Perceberam que eu disse processo? Pois é isso mesmo. Muita gente confunde avaliação com prova. Prova é uma forma de avaliar, mas avaliação não é só prova, não é? Precisamos tirar da palavra avaliação a conotação negativa. Avaliação é uma coisa boa, que pode ser muito agradável, prazerosa, porque reveladora não só de fracassos, mas também de sucessos. Principalmente se estiver na companhia da palavra e da ação de acompanhar.
Então o que é avaliar?
Acredito que um dos principais objetivos de uma avaliação é fazer uma sondagem, um diagnóstico das habilidades dos alunos para saber de onde começar e em que direção ir. Falamos tanto e há tantos anos que os alunos não são tábula rasa, que trazem experiências ricas de sua vida extra escolar e frequentemente agimos como se eles não soubessem nada, como se eles fossem caixas vazias que a escola tem de encher com um monte de conteúdo. Se realmente acreditamos que a cabeça dos meninos está cheia de idéias, experiências, conhecimentos etc, devemos ter o hábito de, na escola, fazer atividades de sondagem.
Como dar uma aula sem saber de onde começar? Podemos partir do pressuposto que as crianças não sabem nada ou podemos fazer como Sócrates nos ensinou: tirar as respostas dos alunos e, de mãos dadas com o Vygotsky que todo mundo cita tanto, ajudar nossos alunos a construir os saberes que a escola deve ajudá-los a aprender.
Outro objetivo importante da avaliação é ajudar o professor a monitorar sua prática escolar, ou seja, ajudar o professor a refletir sobre sua atuação em sala de aula para, sempre que preciso, redimensionar e redirecionar essa atuação. Essa é uma forma de avaliar para melhor acompanhar os alunos. Essa palavra “acompanhar” é muito significativa. Procurei no dicionário o que ela significa, porque acredito que, ela ilustra bem o que estamos entendendo como educação, como ensino, como práticas escolares:
Acompanhar, segundo o Houaiss (eletrônico) é:
§ estar ou ficar com ou junto a (alguém), constantemente ou durante certo tempo; fazer companhia a
§ conviver ou compartilhar as mesmas situações com, ou ser companheiro de
§ deslocar-se junto com, ou seguir na mesma direção (de algo ou alguém)
§ ir ou seguir próximo a (alguém) para dispensar cuidados, servir de guia, protetor ou ajudante, ou como forma de prestar homenagem ou manifestar respeito
§ agir conjuntamente ou em colaboração com
§ observar, manter a atenção ou interesse voltado para (algo, ou alguém, que está em movimento, em desenvolvimento, mudança, ação ou atividade) durante um período de tempo e, eventualmente, participando do processo ou interferindo nele
§ prestar atenção a (algo ou alguém), compreendendo ou assimilando através dos sentidos e/ou da inteligência o que é dito, pensado etc. por outrem
§ tomar consciência ou conhecimento de
E eu pergunto: Estamos acompanhando nossos alunos?
Essa é uma pergunta que devemos nos fazer todos os dias.
Avaliar o quê?
Quando falamos em avaliação na escola, pensamos sempre no aluno. Avaliamos sempre o que ele aprendeu. Realmente essa é uma parte do processo de avaliação, mas não deve continuar sendo a única. Além do conteúdo que aprendeu, o desenvolvimento do aluno, bem como seu envolvimento, devem ser avaliados, como também devem ser avaliadas suas necessidades, suas demandas seus interesses.
O professor, suas ações e reações, também devem ser alvo constante de avaliação. Como avaliar o aluno sem avaliar o professor e suas práticas em sala de aula? Como avaliar o professor sem avaliar a metodologia adotada pela escola, a adequação do material e do(s) método(s) utilizado?
Na verdade avaliar é verificar cada ponto envolvido no processo de ensino-aprendizagem. Avaliar um aspecto só, gera uma visão miope, manca, incompleta do processo escolar.
A fim de avaliar, precisamos ter clareza dos nossos objetivos. Como posso avaliar se não sei o que estou ensinando ou querendo ensinar? Precisamos saber que capacidades, habilidades ou competências os alunos precisam desenvolver e que habilidades precisam ser consolidadas, em suma, precisamos saber em que estágio do desenvolvimento dessas capacidades, cada aluno está. Só assim saberemos o que ensinar e o que avaliar.
Somente sabendo o que é alfabetizar e o que é propiciar o letramento é que saberemos como avaliar as habilidades (capacidades) envolvidas nesses processos.
Não basta saber que alfabetizar é um “processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilita ao aluno ler e escrever com autonomia.” e que letramento é a capacidade de um indivíduo de se apropriar da escrita, sendo capaz de usá-la em diversas situações exigidas no cotidiano, que é um “processo de inserção e participação na cultura escrita (…) que se prolonga por toda a vida”. É preciso saber que habilidades estão envolvidas nesses processos. O que os meninos precisam saber fazer, que habilidades precisam ter para serem considerados alfabetizados? Que capacidades são essenciais para que eles participem desse processo eterno de letramento?
Sabemos que o letramento pressupõe, por exemplo, o contato dos alunos com uma grande variedade de gêneros textuais, mas sabemos que essa não é uma realidade nas salas de aulas brasileiras
Sem desenvolver habilidades de leitura de diversos gêneros textuais, como jornais, revistas, contas, cartazes, cartas, bilhetes, romances, poemas, letra de música, receita culinária, manual de instrução, entre tantos outros, com poderemos falar em letramento? Como poderemos saber se ele está desenvolvendo capacidades que um indivíduo precisa ter para ser considerado letrado? Precisamos ter sempre em mente que a alfabetização e o letramento, envolvem inúmeras habilidades e que essas habilidades não são conquistadas e desenvolvidas ao mesmo tempo.
Avaliar pra quê?
No senso comum avaliar é para saber que nota o aluno vai tirar e se ele vai passar ou não de ano. A reprovação (retenção) é uma questão delicada, principalmente no sistema de ciclos.
Precisamos pensar com vagar sobre a questão do fracasso. O aluno não ter condições de prosseguir, não ter conseguido desenvolver as habilidades que deveria ter desenvolvido, denuncia o fracasso de quem? Só do aluno? Por que alguns (ou vários) alunos não aprendem? Não aprendem o quê? Por quê? Que escola (sistema de avaliação) é essa que permite que os alunos não aprendam?
Muitos professores já viram alunos que foram reprovados por que não sabiam ler e que no ano seguinte chegavam na escola sabendo ler ou nos primeiros meses de aula já estavam lendo, mas tinham que repetir tudo de novo, porque tinham tomado bomba. No sistema de ciclos esse problema já foi amenizado, mas outros aparecem. Não é raro ouvir professores contando casos de alunos que estão na sétima ou oitava série e não sabem ler, não são alfabetizados. Que sistema de avaliação é esse que permitiu que isso acontecesse? Isso acontece com meninos da casse A e da classe média?
Se um engenheiro faz um prédio e depois de alguns anos, o prédio cai, o engenheiro não é processado? Alunos chegando na oitava série sem saber ler e escrever, esse não seria o caso também de processar os professores desse aluno? O que fizeram com ele durante todos esses anos que não ensinaram o menino a ler? O que a escola fez para evitar que esse aluno fracassasse? Como ele foi avaliado? O que foi feito com as avaliações (provas, exercícios). É para que esse tipo de coisa não continue acontecendo que devemos avaliar e acompanhar os alunos, os professores, a metolodogia, os materiais, em suma, o sistema todo, constantemente.
As avaliações nos mostram as práticas que estão surtindo bons resultados, apontam o que não está funcionando e o que precisa de mais investimento, evidenciam as metas que já foram alcançadas, explicitam em que “ponto” do processo os alunos estão, e revelam a evolução e as demandas de cada aluno em particular.
Avaliar pra quem?
Não devemos pensar na avaliação como uma forma de dar satisfação para pais e colegas. A avaliação é antes de tudo um termômetro para o professor, para o aluno, para os pais, para a escola. Ela precisa ser vista como uma filosofia que tem como meta o bem estar da comunidade escolar. Todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem precisam ter metas e saber, depois de um tempo, se elas foram ou não cumpridas, o que faltou, como conseguir atingi-las, se for esse o caso. Para que essa idéia funcione bem precisamos saber como avaliar.
Como avaliar?
Existem muitas maneiras de avaliar. Entre elas podemos citar a observação e registro, a auto-avaliação, a avaliação em grupo, o portifólio, a reflexão sobre erros e acertos dos alunos e do próprio professor, além da aplicação de testes (avaliações). O ideal é que várias formas de avaliação sejam usadas, pois cada uma delas é feita sob uma perspectiva diferente e focaliza elementos diferentes ou em diferentes momentos, tornando mais confiáveis e consistentes as conclusões que se pode tirar da análise delas.
É imprescindível também para uma boa avaliação que alguns conceitos, que muitas vezes tomamos como óbvios, estejam claros. Precisamos parar para pensar sobre eles: o que é ler? e escrever? e texto, o que é?
Termino essa nossa conversa dizendo que precisamos saber onde queremos chegar e que habilidades queremos e/ou precisamos ajudar nossos alunos a desenvolver; precisamos aprender a avaliar e a encontrar soluções para os problemas encontrados e não virar as costas para eles, ou seja, precisamos colocar em prática a idéia de avaliar e acompanhar, acompanhar e avaliar. Quem sabe assim vamos conseguir fazer da escola um lugar de inclusão?

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