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sexta-feira, 23 de abril de 2010

E cadê o foco?

E CADÊ O FOCO?
(Adriana Meyer Torres – Psicopedagoga. Em Revista do Professor – jul/set.2007)

É muito curioso como a sociedade muda rápido e constantemente! A informação sobre os interesses e hábitos das pessoas mostra caminhos antagônicos a cada dia!
O que era comum e esperado há dez anos não é nem cogitado atualmente: vemos isso na política, na meteorologia, no esporte, na família... Em todos os lugares!
Neste terreno movediço e cheio de incertezas, percebemos que problemas se agravam e o bem estar (social e individual) entra a em extinção.
Nunca tivemos acesso a tantas facilidades e, ao mesmo tempo, perdemos tanta qualidade.
Como foi possível?Como situações tão antagônicas coexistem diariamente fazendo com que, ao mesmo tempo em que ganhamos, perdemos?
Já diziam sábios: Chegará o momento em que teremos tanta liberdade que seremos obrigados a nos prender em casa para não sermos vítimas dela!
As escolas apelam aos pais para que eduquem os adolescentes na busca do ser, não do ter e evitem gerações ainda mais consumistas e individualistas. As famílias culpam a mídia por esta influência. A mídia, por sua vez, alega que a sociedade interfere nesta preferência. E a sociedade? Há tempos não se manifesta em mais nada; está muito preocupada em correr atrás do que nem sabe o quê e para quê.
Todos desejam, debatem e criticam este descaso que se espalha e corrompe os bons princípios e a ética. Mas, na verdade, estamos vulneráveis e incertos de como agir; cedemos à tentação de presentear nossos filhos com o que há de mais novo e moderno, sem medir esforços e conseqüências.
Não se trata de deixar a pobre criança de sete anos sem celular, ou isolá-la do direito de comprar um tênis de R$ 600,00. Apenas, temos que primeiro questionar se vale a pena um carnê de 24 prestações de R$ 50,00, num orçamento já tão comprometido.
É essencial que os jovens reflitam e participem dessa reflexão.
Afinal, o que aconteceu com os objetivos? Por que não podemos traçar planos de conquista material, captar recursos e esperar para ter algo?
Há bem pouco tempo, as famílias ponderavam sobre as prioridades, separavam parte do orçamento mensal até conseguirem adquirir o que desejavam.
Hoje, mal mentalizamos o que queremos e já efetuamos a sua compra. A família só toma conhecimento do nosso desejo quando entramos com o pacote em casa. E os filhos então? Ordenam o que devemos consumir, sem qualquer reflexão ou percepção da verdadeira utilidade.
Eu costumo brincar que pertencemos hoje à geração sem foco. Uma sociedade criticada pelo excessivo consumo, mas que sequer sabe o que quer.
Agimos como se fôssemos uma câmera digital. Ficamos seduzidos pela facilidade em tirar infinitas fotos (a única preocupação é o desgaste da bateria), sem qualquer apreensão em focar (eu deleto o que não desejar depois) ou preparar a imagem (posso até mudá-la quando for salvar no computador).
Não se trata de dizer que o culpado dos problemas sociais atuais são as máquinas fotográficas digitais. Apenas estou fazendo um paralelo entre esta inovação tecnológica e as nossas relações sociais.
Da mesma forma que as múltiplas funções desta máquina nos despreocupam de alguma postura, reflexão e tomada de decisão a hora de tirar uma foto, passamos diariamente uma imagem inconseqüente do que também podemos corrigir ou mudar o que falamos ou fazemos na hora que desejarmos.
Simplesmente apagar nossos erros!
Mas no fundo sabemos que isso não é verdade. Os recursos da máquina se limitam às fotos. Se combinarmos alguma coisa com alguém, não podemos voltar atrás e simplesmente delatar nossa fala. Da mesma forma que, se nos envolvermos com pessoas de má índole durante um tempo de nossas vidas, não dá para apagar sua influência simplesmente como apagamos a imagem da foto.
Temos que ter noção de conseqüência e percepção dos nossos atos: o que fazemos deixa marcas na nossa própria história.
Sinto falta das antigas máquinas fotográficas que necessitavam de ajuste na imagem. Mesmo com um olho só, precisávamos organizar as pessoas para caberem e girar o seletor definindo distância, claridade, uso ou não de flash entre outras preocupações. Precisávamos ver e analisar a situação antes de captar a imagem. Perder a foto era gastar em dobro e guardar um papel que nos relembrava a falta de atenção. Também era muito boa a surpresa da revelação. O que aparecia na foto nem sempre era o que imaginávamos ter captado e a conseqüência era uma só: ficávamos mais atentos da próxima vez.
Esta é minha sugestão: já que as máquinas digitais são um recurso indiscutivelmente moderno e facilitador, temos que promover outras atividades e outras formas que desenvolvam esta aprendizagem de análise, compreensão, reflexão e captação de imagens. Que tal uma pintura, por exemplo? Seria uma forma de representar pessoalmente o olhar que temos sobre aquela situação e ampliar nossa capacidade de manifestação e compromisso. Vale a pena refletir e buscar meios de manifestação pessoal!

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